O setor da agroindústria tem grande peso na economia catarinense, mas em um momento de crise, como este, dificilmente o setor conseguiria se manter estruturado se não fosse o apoio que vem do próprio setor e das estruturas cooperadas. Santa Catarina é exemplo nacional de cooperativismo e isso tem sido fundamental para que setores como o da produção de alimentos possa se manter ativo e relativamente com pouco impacto econômico por conta do cenário do coronavírus.
Em entrevista à Coluna Pelo Estado, o presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Luiz Vicente Suzin, conta como a atividade cooperada tem sido importante para manter diversos setores ativos.
A Ocesc representa todos os ramos das atividades cooperativistas, como órgão representativo do Sistema Cooperativo Estadual e Técnico Consultivo do Governo e outras instituições nacionais e internacionais. Nos últimos anos, o cooperativismo tem registrado crescimento importante sob todos os ângulos, destacando-se o número de cooperados, empregados e arrecadação.
[Pelo Estado] – Como as cooperativas estão lidando com o momento?
Luiz Suzin – Todos fomos pegos de surpresa, mas em Santa Catarina, no sistema cooperativo, o agronegócio é o principal ramo e nós estamos no final da colheita de verão. Foi uma safra razoavelmente boa. Algumas regiões nós tivemos perdas, mas os preços estão se comportando bem para o produtor. Na agroindústria nós estamos trabalhando com todos os cuidados, claro, não se pode descuidar nesse momento, mas a produção não parou. O mesmo cuidado está sendo tomado na produção de leite, suíno e aves.
A orientação para as cooperativas é seguir as normas de cuidados, tanto no corpo técnico como para o agricultor que está na ponta. E por isso que tudo está funcionando, porque estamos tomando todos os cuidados, da produção ao transporte. Com isso, nós conseguimos permanecer com as atividades ativas, e isso é o mais importante para conseguirmos manter os empregos no estado de Santa Catarina.
[PE] – Além do coronavírus o estado enfrenta uma seca também. Isso tem afetado muito?
Luiz Suzin – A seca chegou e prejudicou sim, mas algumas regiões, a perda aqui não foi tão grande como no Rio Grande do Sul. O extremo oeste teve uma safra muito boa, porque eles plantam antes que o meio oeste. Agora o que está prejudicando mais é a possibilidade de falta de água para a pastagem pode prejudicar muito o setor leiteiro. E com a falta de chuvas isso fica muito prejudicado. Os níveis dos rios estão baixos e isso nos preocupa. E não vier chuva nos próximos 15 dias a situação vai ficar mais preocupante. A safra de verão não foi tão prejudicada como pode ser a próxima safra por conta da falta de água.
[PE] – A Ocesc pediu antecipação do Plano Agrícola. Foi aceito?
Luiz Suzin – Esse pedido da Ocesc veio em boa hora. Esse pedido foi feito à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e há uma sinalização de que o plano pode ser anunciado em maio, e não em julho. Isso vai dar mais tranquilidade e segurança para que o produtor se programar para a nova safra. Se o agronegócio parar no estado ou no Brasil nós sabemos que pode gerar um caos. O nosso pedido foi muito bem aceito e não será bom só para Santa Catarina, mas para todo o Brasil. Com essa instabilidade que o dólar enfrenta, nossa matéria prima, fertilizantes e defensivos, que 90% é importado, acaba sendo bastante impactada. A antecipação do plano pode melhorar a programação antecipada pelo setor do agronegócio.
[PE] – Como está a atuação das cooperativas de crédito?
Luiz Suzin – As cooperativas de crédito fazem um grande papel em Santa Catarina. Nós temos uma ligação direta ao Banco Central e ao BNDES para atender o pequeno e média empresa e produtores que enfrentam esse momento difícil. As cooperativas estão atentas. E vale destacar que a cooperativa de crédito trabalha com taxas mais atrativas e isso é um alento nesse momento.
[PE] – Qual é o tamanho do cooperativismo em Santa Catarina atualmente?
Luiz Suzin – Santa Catarina é um estado privilegiado. Somos os mais cooperativistas do Brasil. Quase 60% dos catarinenses são ligados a uma atividade cooperada. Isso é resultado do trabalho que o cooperativismo vem desenvolvendo em Santa Catarina em nossos 11 ramos de atividades. E como já disse, o ramo que tem maior número de cooperados é a agroindústria, depois temos grande volume de cooperados também no setor da infraestrutura, saúde e transporte. Um setor soma com o outro. Isso mostra que o modelo cooperado é um modelo de sucesso. A Cooperativa é a casa do associado. O associado é dono da cooperativa. Ela também tem que ter resultado e fazer investimentos. Por outro lado, tudo isso é feito em parceria com os associados.
[PE] – E o desemprego tem afetado muito as cooperativas?
Luiz Suzin – Nós chegamos a 70 mil empregados no cooperativismo em Santa Catarina. Corremos contra a tendência no Brasil, crescendo mais do que qualquer previsão. Acredito que se tivermos todos os cuidados, no campo, na agroindústria, e nas demais atividades, eu acredito que podemos passar por esse momento sem grande número de desemprego no cooperativismo. Nós estamos fazendo nossa parte. Nós trabalhamos hoje para não termos desempregos no cooperativismo em Santa Catarina.
Fonte Coluna Pelo Estado