O agronegócio é o setor com maior vulnerabilidade ao tabelamento de fretes na economia brasileira, afirmam pesquisadores do Cepea Esalq/USP. De acordo com o levantamento, isso ocorre porque a atividade é responsável por 42,3% de todos os serviços de transporte realizados no País.
O estudo do Cepea avaliou as consequências da Política de Preços Mínimos de Transporte Rodoviário de Carga, editada na Medida Provisória 832/2018, aprovada em plenário do Congresso no dia 11 de julho. Desde então, o assunto vem preocupando produtores rurais dos mais diversos portes em todo o Brasil.
De acordo com o estúdio, a grande intensidade do uso de transportes e o baixo valor em relação ao volume transportado, notadamente para atividades relacionadas à agricultura e agroindústria, tornam o agronegócio o setor mais vulnerável da economia. “Dentro do agronegócio, destacam-se, no uso dos serviços de transporte no Brasil, a agricultura e a agroindústria (com 16,7% e 23,79%, respectivamente). Dentre os produtos agrícolas, soja, cana-de-açúcar e milho são os principais produtos com relação ao uso de serviços de transporte. Já na agroindústria, a sucroalcooleira, de abate, óleos vegetais e de bebidas são os destaques em uso de serviços de transporte” ressaltam os pesquisadores.
O artigo dos pesquisadores do Cepea aponta, ainda, que a pressão sobre os custos do agronegócio recairá em menor remuneração ao produtor e repasse de grande parte destes custos ao consumidor final, prevendo-se, assim, impacto inflacionário importante. “O agronegócio vem se deparando com a elevação dos custos de produção e a queda de preços de seus produtos, o que faz com que a renda geral do setor (PIB-renda, conforme definição metodológica do Cepea) recue. Em 2017, a renda real do agronegócio (PIB-renda) registrou queda de 4,4% e, para 2018, estima-se novamente uma redução de quase 5%”, alertam eles.
Para o Cepea, a consequência direta de uma possível elevação de custos de transporte seria o repasse de parte desses custos aos preços ao consumidor final, influenciando diretamente na elevação da inflação e diminuição de poder de compra do consumidor brasileiro. “Estes fatores têm grande relação com o preço dos alimentos e, sobretudo, com o bem-estar da população mais pobre. É importante salientar que, assim como tende a aumentar o preço ao varejo, o aumento do frete necessariamente tende a reduzir o preço ao produtor rural. Ou seja, consumidor e produtor arcarão com a elevação do custo de transporte”, concluem os pesquisadores. (Equipe SNA/Rio).