domingo, abril 28, 2024

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O “coronel” que foi prefeito de Chapecó e de Joaçaba

por Antonio Carlos “Bolinha” Pereira, joaçabense, 73 anos

A criação dos Municípios de Chapecó e de Joaçaba, em 25 de agosto de 1917, trouxe avanços importantes para o Oeste de Santa Catarina: novas unidades político-administrativas; a definição da região como parte integrante do contexto catarinense; a necessidade urgente, por parte das autoridades constituídas locais e estaduais, de ações efetivas para colonizar a região, e a transferência dessas ações para a iniciativa privada.  Assim, a colonização inicia-se com as primeiras manifestações para a região receber ações e empreendimentos de companhias de colonização, através da venda e/ou doação de terras por parte do governo, e para isso seriam necessários empreendedores pioneiros.

Foto: Reprodução

Um desses pioneiros protagonizou algo inédito. Entre os anos de 1926 e 1930 o “Coronel” Manoel do Nascimento Passos Maia foi o 6º prefeito de Joaçaba, e em 1936 viria a ser também o 16º, o que pode ser facilmente constatado nas páginas 55 do Álbum do Cinquentenário de Joaçaba (Queiroz, 1967, Ed. do Autor) e 99 do Livro do Centenário de Joaçaba (Bilibio, Queiroz, Ferraz e Pereira, 2017, Ed. Unoesc). O que justifica estas linhas, no entanto, é o insólito da história: no ano de 1922 Passos Maia foi também o 3º prefeito de Chapecó. Naquele tempo, os prefeitos eram nomeados pelo governador, e este precisava de alguém para pacificar a região.

O “Coronel” Passos Maia não era militar de carreira, o título era honorífico, como de praxe antigamente. Ele governou Chapecó e Joaçaba como prefeito nomeado. A informação está contida no Livro “Metalmorfose em Joaçaba” (Souza & Corrêa, Ed. Insular, 2013). Então, senta que lá vem história, pois vamos aprofundar o assunto…

Segundo Marco Aurélio Nedel, no livro “Como Surgiu Chapecó” (Ed. do Autor, 2020), em 1917 o médico e farmacêutico Manoel do Nascimento Passos Maia e seu irmão Agilberto Atílio Maia foram sócios do Coronel Ernesto Francisco Bertaso. Os três, todos gaúchos, criaram a empresa “Bertaso, Maia e Cia.”, que foi a maior colonizadora da região de Chapecó, e compraram e comercializaram três grandes áreas denominadas Fazenda Rodeio Bonito, Fazenda Campina do Gregório e Fazenda Chapecó. Eles negociaram as terras com milhares de colonos procedentes de diversas regiões do Rio Grande do Sul, e logo perceberam que a agitação, a luta política, os grupos armados com capangas dispostos a matar por encomenda tornariam muito difícil a vida dos colonos, além da falta de ordem e de garantias individuais e sociais.

Para expor o problema ao governador Hercilio Luz, Manoel dos Passos Maia foi a cavalo até o Vale do Itajaí, e dali por via marítima deslocou-se até a Capital. O Governador assegurou a ele todas as garantias solicitadas, e o nomeou delegado especial de Chapecó. Para que a empresa se encarregasse da colonização, concedeu-lhe terras devolutas (terras públicas sem destinação pelo poder público, que nunca integraram algum patrimônio particular).

Nomeado pelo governador, Passos Maia participa da política: exerce entre 1922 e 1929 o cargo de prefeito em Chapecó tendo governado por 1.749 dias (segundo dados disponíveis, que carecem de confirmação). Estranhamente, de 1926 a 1930 ocupa o mesmo posto em Joaçaba, então conhecida como Cruzeiro. Na época, Adolfo Konder era o governador de SC e o presidente da República, Washington Luiz, o mesmo que em 1928 determinaria a construção de uma ponte de ligação entre a Estação Herval e Joaçaba, a qual viria a ser a Ponte Emilio Baumgart.

Passos Maia foi eleito deputado estadual, e ao participar da Revolução Constitucionalista em 1932, teve os direitos políticos suspensos por dez anos, com perda dos bens patrimoniais, além de ser exilado para Portugal. Entretanto, dois anos depois Getúlio Vargas anistia alguns revoltosos, entre eles o “nosso coronel”, que voltou à vida pública e tornou-se novamente prefeito de Cruzeiro, agora rebatizada Cruzeiro do Sul.

O mesmo Álbum do Cinquentenário nos conta que no seu governo foram dados os primeiros passos para a transformação de Joaçaba, que era um simples povoado e passou a ser uma cidade de destaque. Abriu e alargou ruas e avenidas e, ajudado por sua esposa, angariou verbas para a construção da antiga Igreja Matriz Santa Teresinha, situada onde atualmente está o Hospital Universitário Santa Teresinha.

Filho de José Luiz Maia e Gertrudes Silveira Passos Maia, Manoel nasceu em 25 de dezembro de 1887, em Jaguarão (RS). Em 1912 casou com Palmira Maia. Realizou o curso primário na terra natal. Matriculou-se no Colégio Militar de Porto Alegre (RS), mas abandonou o curso. Mudou-se em 1942 para Curitiba (PR) e ali faleceu em 16 de junho de 1962. Hoje, Passos Maia é nome de um município no Oeste catarinense, desmembrado em 1991 de Ponte Serrada, que era distrito de Joaçaba até 1948.

Foto: Reprodução
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