por Jaime Telles, membro da Academia de Letra do Brasil/Santa Catarina; orador do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGO); orador e diretor Literário da Sociedade de Cultura Artística de Joaçaba e Herval d´Oeste (Scajho).
Ao debruçar Seu amantíssimo olhar sobre nós, mesclando piedade e paciência, Deus contempla incontáveis peraltices de seus pupilos, engatinhantes no saber.
Por conta de Seu infinito amor, mantém, mesmo assim, a certeza de que seus herdeiros não decepcionarão, embora se enterneça com os percalços, próprios do moroso aprendizado.
Não se compraz, apenas aprecia, com extrema compreensão, os enganos que nos abrem os olhos, os tropeços e as retomadas que se sucedem pelas estradas de nossa teimosia.
Sabendo que Suas Leis naturais só serão paulatinamente compreendidas, incute em nossa mente a necessidade de leis preliminares. Nem damos conta de que as constituições e códigos humanos estão repletos de artigos e parágrafos ditados por Sua própria voz, na solidão dos nossos sonhos, na individualidade do nosso sono. O noticiário expõe o espernear de interesses obscuros e oportunismos mesquinhos que já disputam espaços com severas e resolutas defesas da ética e da sensatez, que são ingredientes da justiça. A Lei humana jaz para que os despertos não se creiam espertos, mas assimilem limites que, em verdade, são inspirações do Criador, que nos corrige e ajuda. Ao invés de vangloriar-Se disso, prefere ditar-nos Suas santas normas, nos dando a impressão de tê-las criado, nós mesmos, uma a uma. Não foi à toa que fez noite e fez dia.
Legou-nos os estados de vigília e modorra. Se não dormíssemos, mais bobagens faríamos. Ao recolher-nos para Si, evita, providencialmente, que nos assenhoremos de nós mesmos, por ingênuos que ainda somos. É quando nos fadigamos com a rotina hodierna, vencidos pelo cansaço, nem sempre meritório, lançamos nossa carcaça no primeiro catre disponível e viajamos de volta ao regaço Paternal, frágeis, despidos, puros. Ali, ao sabor da inconsciência, sorvemos Dele nacos de divindade. Logo, retornamos à seara terrena, na alvorada dos iguais, onde as experiências são o amálgama do aprender para evoluir.
É a própria atmosfera quem se encarrega de soprar em nossas narinas o bafo santo do sono natural, que a todos tomba, igualmente, sem exceção. Os pesadelos que nos apavoram, podem não ser mais que suarenta e dolorosa tarefa de asseio interior, que remove incrustadas sujidades, das quais, a misericórdia do Pai nos poupa de lembrar com clareza, restando as inquietudes de cada sonho, que recuperam fragmentos confusos de estórias de pouco sentido aparente. Os olhos de hoje não suportariam o espelho de nossas desditas pretéritas. Por amor, Ele nos impele por esta via sem retorno. Prefere que olhemos para frente. Avançar é da Lei.
O sono é nossa oportunidade diária de renovação interior, sem a interferência humana, que é pueril e suspeita. Ele se instala e nos arrebata, mesmo quando não o desejamos. E dormimos. E ao dormirmos, num átimo, reencontramos nossa essência, fonte inesgotável de esperança, na maciez incomparável do colo de Deus, onde repousam os germes de todas as Leis do verdadeiro progresso.