por Jaime Telles, membro orador da Scajho e do Instituto Histórico e Geográfico do Oeste Catarinense.
Além de sua forte e instigante presença na história da humanidade, o número doze me provoca outros pensares. Constante desde o calendário babilônico, que o tinha como base, ele reaparece emblematicamente em outras situações, quer seja na história, na astrologia, na religião e em diversos outros contextos da civilização, por exemplo: os períodos de doze horas do dia e doze da noite; nosso ano tem doze meses; os doze signos das casas do zodíaco; também no zodíaco chinês, que utiliza doze animais como base: cada um representando um ano; as doze pedras incrustradas na coroa do Rei da Inglaterra; as sete notas musicais, com os 5 sustenidos presentes nas notas Dó, Ré, Fá, Sol e Lá; as doze matrizes de cores primárias, secundárias e complementares; os doze apóstolos de Jesus; as doze tribos de Israel, oriundas dos doze filhos de Jacó; as doze pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote; as portas da cidade de Jerusalém e seus doze anjos guardiões, na Bíblia, o número dos eleitos: 144.000, que corresponde a doze vezes 12.000, dos possíveis arrebatados; as doze aparições de Jesus depois de crucificado; os doze cestos cheios com as sobras da multiplicação dos pães, os doze profetas do antigo testamento; os doze mandamentos , dos quais 2 ainda haverão de ser revelados; os doze grupos dos deuses dos caldeus, romanos e etruscos; os doze nomes de Odin, deus supremo escandinavo; os doze deuses no Japão primitivo; os doze deuses gregos no olimpo relatados por Platão; os doze acentos almofadados do Criador, na mitologia japonesa, as doze regiões que dividem o mundo, conforme a tradição coreana, entre outras.
Isso tudo leva a crer que o número 12 possa indicar algum padrão intrínseco, cujo significado, nossa curiosidade ainda não é capaz de alcançar.
Mas trazendo-o para a atualidade, nos vemos adentrando ao 12º e derradeiro mês do ano. Embora muitos estejam afoitos quanto ao 13º salário, ante os encantos das vitrines, dezembro representa algo maior, que me induz à uma especial reflexão: o vejo como uma espécie de saponáceo etéreo, altamente detersivo, cuja aplicação se dá nas fibras do pensamento, remotamente ligadas ao finíssimo tecido da alma. Tal recôndito costuma ser repositório dos mais agudos sentimentos que povoaram nossas mentes nos último onze meses, exigindo auto análise e esmero na assepsia, para eliminação de incrustrada espurcícia, que nos impede a elevação. Ali podem estar se acotovelando, culpa, ciúme, inveja, raiva, frustração, decepção, ansiedade, tristeza, medo, desprezo, vingança, nojo, desânimo, entre outros deformadores da personalidade. A eles ainda se juntam os sete pecados capitais. Tal conjunto sufoca o indivíduo no porão da sanidade e empana sua visão, dificuldade o alcance da luz. O caldo desse charco é o ódio, que só se forma quando nutrido pelas raízes deste funesto grupo. Mas creia: a razão de todas essas pútridas possibilidades tem uma raiz muito profunda e de difícil eliminação, o orgulho, no seu mais negativo sentido. Aquele que aguça o senso de auto importância, ou conceito exagerado de si próprio, dando aso à vaidade e à soberba. Dali vem nossos mais reprováveis erros e deslizes. Orgulho é o sentimento de auto defesa sobre as paixões, inclinações e até decisões, das quais, nosso espírito não abre mão. É o ápice da nossa teimosia. Mesmo ciente do engano e de suas trágicas consequências. Mesmo que doa. E sempre dói. Ainda assim, o espírito ferido insiste em seguir a triste linha, com a altivez de quem busca algum galardão. Para este, que é o maior de todos os males, só existe um remédio: o Perdão. Sim, este simples substantivo, cuja gramática poderia exigir letra maiúscula, dada sua imensurável importância, na remissão de culpa, dívida, ofensa ou pena. Perdão é expressão máxima do amor e de todo seu clarão.
É disso que trata dezembro! Na direção do fim de 2024 e preparando-nos para o ano novo, quiçá consigamos, olhar para dentro…perdoar… limpar e seguir.