terça-feira, dezembro 10, 2024

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Multiplique por três, por Jaime Telles

Multiplique por três
O privilégio de estar na ópera do Oeste,
onde o povo que de emoção se veste
para banhar uma avenida toda de suor,
tendo por riqueza maior
as minúcias do adereço,
ousadia que não tem preço
mas tem o seu porquê:
O aplauso de você
e de todos os demais,
essa turba satisfaz
e renova o fôlego da arfante bateria,
num turbilhão de alegria.
Das ideias do carnavalesco
O aspecto pitoresco
De um tema bem contado
Equipe coesa, coração apertado.
É um festival de vaidade, tudo bem.
Mas, também de competência.
Nem pergunte para ciência,
ninguém explica.
Repica o tamborim,
num agudo sem fim,
enquanto o surdo quase nos ensurdece,
não quando sobe o braço, mas, quando desce,
no compasso do ribombar coletivo.
E não há pé que não fique ativo
ao som daquelas centenas
de mãos grandes e pequenas
com baquetas em punho
E você por testemunho
e cúmplice na melodia,
devorando com olhos cada alegoria
que lhe encanta o olhar surpreso.
Se a ombreira machuca
ou se a fantasia tem muito peso
não importa a efêmera dor
pois desfilar tem algo de amor
e amor não dói
ao contrário, constrói
a couraça da vibração
e acelera o coração.
É um exercício de brasilidade                                                                  sacudindo esta cidade,
que mergulha inteira
na maior festa da cultura brasileira.
É um show mais que original,
onde o que há de mais real
é a própria fantasia,
que avança em harmonia                                                                        e como que desliza em leve evolução.
Haja coração, quando passa a passista!
Soberana nesta pista
Rebolado maroto e passada ligeira
contrastando com a porta-bandeira
de beleza deslumbrante.
E o mestre-sala insinuante,
Cortejando e protegendo o estandarte,
símbolo máximo dessa arte,
que é puro sentimento,                                                                        no detalhe, no acabamento
no brilho colorido que reluz na claridade
na infinita criatividade.
E todos se veem bonitos
Quem não canta solta gritos
Mas, na passagem do abre-alas
Calam-se todas as falas
Respeito por todo um ano esmero
Capricho, dom, tempero…
Valeu o esforço, como valeu!
Porque todos se sentem nobres,
ninguém plebeu.
Quase acaba com a gente
o encanto da comissão de frente
que ralou muito por semanas.
E na ala das baianas
a experiência de saia rodada
ao som da voz do puxador afinadinho
que no tino fino do cavaquinho
enriquece a letra do samba
com o charme do cacareco
que ressoa forte, fazendo eco
pelas arquibancadas,
de onde palmas cadenciadas
nos camarotes replicam
enquanto confetes salpicam
e o chão que ganha cor e brilho.
Aqui brilha pai, brilha mãe e brilha filho
É o asfalto por piso e o céu por teto
do avô até o neto, ninguém fica de fora.
Tristeza… foi embora.
Prevalece o riso liso de um povo eufórico,
retratado no gigantismo do carro alegórico
onde a bela destaque requebra lá no alto
esguio corpo, pisando fino salto
reduzida indumentária
na maior tradição planetária.
No rápido raio de meio quilômetro
a coordenação de olho no cronômetro,
enquanto alguém  cuida do conjunto
que é de levantar defunto
de antigos foliões.
São gerações e gerações,
empurrando o carro da nossa cultura,
manifestação espontânea, de alma pura.
Essa força colossal
é a vizinhança saudando Joaçaba e Herval
Unidos, em Aliança, onde o Grande Vale Samba
Aqui sim, o Sul tem molejo de bamba
E quando for fevereiro outra vez,
Pegue tudo isso e multiplique por três.

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