Político experiente, com seis mandatos de deputado estadual, Moacir Sopelsa se prepara para o passo mais importante de sua trajetória na vida pública. A partir de 1º de fevereiro de 2022 se sentará na cadeira de presidente da Assembleia Legislativa, consumando uma parceria inédita dentro do MDB. No primeiro ano, o cargo ficou com seu colega de partido, Mauro de Nadal; no segundo, o ex-prefeito de Concórdia completa o período da sigla à frente do Legislativo catarinense. Sopelsa garante que a sua gestão vai manter o padrão estabelecido por Nadal de priorizar o bom diálogo e deixar a porta do gabinete da presidência sempre aberta. “Quero agradecer aos 39 deputados e conto com o apoio de todos para fazermos uma boa gestão”, diz o parlamentar que desde 1998 transita pelos corredores do Palácio Barriga Verde. Nesta entrevista exclusiva à coluna Pelo Estado, Moacir Sopelsa fala sobre a expectativa de ocupar o cargo que pode fechar com chave de ouro a sua trajetória; antecipa a sua posição em relação às eleições de 2022, tanto em nível estadual quanto federal; e não deixa de cobrar mais atenção por parte da presidência da República com Santa Catarina. Confira:
O senhor tem longa trajetória na vida pública e está prestes a assumir a presidência da Alesc. Qual a sua expectativa?
Eu tive a oportunidade de ser vereador e prefeito de Concórdia e com muita honra exerço o sexto mandato de deputado estadual. Tive a oportunidade de ser secretário da Agricultura de Santa Catarina por dois momentos, primeiro no governo de Luiz Henrique e o segundo na gestão de Raimundo Colombo. Isso tudo me deu uma visão muito grande da importância do estado de Santa Catarina e agora vou ter esta oportunidade de em 2022 ser o presidente da Alesc. Eu quero fazer um agradecimento aos 39 demais parlamentares, já que este entendimento foi construído entre todos, além do desprendimento do deputado Mauro de Nadal. Esta é a primeira vez que acontece a divisão do mandato de presidente dentro de um mesmo partido. Já houve divisão entre partidos diferentes, mas não como vai acontecer desta forma. Para mim é um motivo de muita satisfação. Nós vamos procurar fazer o que fiz ao longo de toda a minha trajetória: trabalhar com transparência. A Casa é dos 40 parlamentares. Espero ter o apoio de todos os técnicos, que fazem um trabalho muito importante, seja ele efetivo, comissionado ou terceirizado. Eu quero que esta Casa continue a ser respeitada, que a gente tenha independência e que ela seja harmônica com todos os poderes. Vou procurar fazer com que os parlamentares se fortaleçam cada vez mais. O próximo ano é de eleição e espero que todos possam buscar seus objetivos, respeitando aquilo que recomenda a legislação. Enfim, fazer um trabalho que deixe a minha marca de seriedade e lealdade.
O MDB tem papel muito importante dentro da governabilidade em SC. O senhor pretende manter essa relação com o governo?
Em primeiro lugar quero deixar claro que tudo aquilo que for republicano e do interesse de SC terá o meu apoio e tenho certeza de que o governador também pensa assim. A bancada do MDB permanecerá unida nos bons projetos. O governador Moisés iniciou o seu governo numa forma diferente de pensar, mas há que se reconhecer que está havendo investimentos, que está atendendo os parlamentares. Nós temos recursos através das nossas emendas que nós nunca tivemos. Esses recursos não são para os deputados, são para os municípios. Esses investimentos vão atender as demandas das pessoas Não é por 2022 ser um ano eleitoral que isso deva mudar.
O senhor representa o setor agrícola, que carrega o Brasil durante a pandemia. Este setor vem sendo bem atendido?
Nós tivemos muitos avanços nos últimos anos, crescemos muito com as políticas voltadas ao agronegócio. Mas eu vejo que ainda estamos longe de ter uma política segura, mas não só para o agronegócio, mas para todos os setores. Durante a pandemia vários negócios foram fechados, bares, restaurantes, as pessoas se cuidaram e ficaram em casa, etc, mas no agronegócio não. As pessoas tiveram que trabalhar, o produtor não deixou de tirar leite, a indústria não deixou abater frango. Se tivéssemos feito isso, talvez hoje faltasse comida. Não estou dizendo que não deveríamos ter o cuidado, acho que ainda devemos ter esse cuidado, mas enfim, o agronegócio sustentou a economia nos últimos anos. Envolveu o transporte, a indústria, o comércio, o consumo. No ano passado tivemos problemas que nunca tínhamos tido na produção de cereais, de milhos. Enfrentamos uma praga nova que matou 30% da nossa safra de milho, que foi a cigarrinha; tivemos ainda um clima que não ajudou muito. Já esse ano aquilo que foi plantado, semeado, está vindo com vigor e o clima está ajudando muito. Acredito que vamos ter uma boa safra. Nós também estamos preparados para essa praga que no ano passado foi bastante prejudicial. Mas também tivemos uma coisa que é preciso deixar claro: tivemos aumento no custo de produção três vezes mais. Um hectare que nos custava R$ 4 mil, hoje precisamos de R$ 11 mil. Os insumos subiram demais. O custo dos equipamentos subiu demais. Um trator agrícola de 100cv, que é muito usado pelo pequeno produtor, estava em torno de R$ 130 mil hoje passa de R$ 300 mil. Tudo isso vai refletir no preço final.
Qual sua opinião sobre os investimentos do governo estadual em rodovias federais e qual sua visão sobre as rodovias estaduais, já que isto impacta no escoamento da produção?
O governo decidiu investir nas BRs 470, 153 e 280. Era necessário. O governo estadual tinha que cuidar das estaduais e o governo federal, que leva muitos recursos daqui, precisava cuidar das federais. No entanto, não cuida. Nós temos duas BRs para chegar até o Oeste do estado. Até o Meio-Oeste vamos com a 470 e depois vamos na 282 até a Argentina. São duas rodovias que precisam ser melhoradas, e muito melhoradas.
Qual a sua visão sobre as ferrovias?
Se olharmos o avanço das ferrovias no Centro-Oeste do país e até a divisa do Paraná vamos ver que eles cresceram nos últimos anos. Nós e o Rio Grande do Sul, nada! Agora fala-se de uma ferrovia de Chapecó a Ponta Grossa (PR) e temos que abrir os olhos porque o escoamento seria pelo porto de Paranaguá. Daqui um pouco nós vamos desviar a exportação da produção de carne do Oeste de Santa Catarina para um porto do Paraná, sendo que temos uma estrutura portuária invejável. Eu vejo que temos que trabalhar uma ferrovia do Paraná, sim, mas para Chapecó, mas o embarque da nossa produção para o exterior tem que ser pelos nossos portos. E olha que temos o porto de Imbituba que é pouco explorado.
O senhor vê descaso do governo federal com SC ou pouca atuação da nossa bancada federal em Brasília?
Nós formamos a Bancada do Oeste aqui na Alesc, com 15 deputados. Acho que conseguimos alguma coisa a mais. A nossa bancada em Brasília, se comparada com São Paulo e com o Nordeste, sempre será mais fragilizada, mas acho que a nossa bancada precisa bater na mesa. A grande maioria da nossa bancada federal vota com o governo e o governo federal precisa olhar para o nosso estado. E não estou falando só desse governo. Nos últimos 20 anos tivemos muita promessa e poucas ações.
O senhor teve uma atuação importante na revisão do Código Ambiental. Como o senhor viu as discussões nas audiências públicas e o que espera do texto final?
O Código Ambiental precisava ser revisado. Precisamos mexer na questão da floresta nativa. A Araucária que está em extinção. Mas por que? Porque não estamos manejando. Por que uma árvore velha, que não tem mais como crescer, que já fez o que tinha que fazer, não é permitido de usar e em troca disso ter o compromisso de plantar mais 10? Outra questão: SC tem uma riqueza de águas. Vamos conservar as águas que nós temos, mas também vamos dar a oportunidade de proteger as nascentes Nós temos em SC o impedimento de que árvores de 4 metros de altura não podem mais mexer. No Paraná são 8 metros. Vamos fazer essa mudança. Não vamos deixar mexer em topo de morro, não vamos deixar mexer onde tem que preservar, onde tem água, mas fora disso, deixa aproveitar, vamos produzir. Outro ponto são as licenças, que às vezes demora um ano, dois anos para sair. Uma outorga d’água, quatro anos. Quanto tempo tem para dar uma licença? Por que precisa de um técnico para ver uma licença de avicultura? A renovação pode ser automática. Alguém vai se responsabilizar e depois o IMA vai lá fiscalizar. E quem assinou, se não estiver corretamente, vai arcar com as consequências. Vai pagar. Precisamos desafogar. E tudo isso estamos colocando no Código. Santa Catarina tem tradição de preservação. Mais de 30% das nossas terras ainda estão preservadas ou com mata nativa ou com mata refeita. Outro ponto é quem vai pagar para quem preservar? Tem produtor que tem 50 hectares, sendo 30 de mata nativa que não poderá mais mexer. Ele precisa de uma compensação para incentivar as pessoas a preservarem.
(Fonte Coluna Pelo Estado)