Objetivo é ajuda-los a reconhecer o contexto de violência em que estão inseridos. Isso facilita a superação do comportamento agressivo. Com o convívio terapêutico, o nível de reincidência é quase zero.
Em pleno século XXI foi preciso criar uma Legislação específica, a Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha, para se garantir que a mulher tenha o direito de não sofrer violência doméstica ou familiar. No Art. 5° ela configura a violência doméstica e familiar contra a mulher como qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial.
Ao sofrer a violência, a mulher deve registar um Boletim de Ocorrência na Delegacia mais próxima. Após o registro, a autoridade policial concede a ela, em um prazo de 48 horas, uma medida protetiva de urgência que determina, entre outras coisas, o afastamento do agressor do lar ou do local de convivência e determina o comparecimento dele em programas de recuperação e reeducação.
Atendendo a este item, o curso de Psicologia da Unoesc São Miguel do Oeste desenvolve o programa Basta!. O objetivo é ajudar os agressores a reconhecerem o contexto de violência em que estão inseridos, o que facilita a superação do comportamento agressivo e o convívio com o serviço terapêutico aumenta a possibilidade de ele não voltar a cometer violências.
SIGILO
O trabalho consiste na escuta terapêutica, a partir de grupos de encontro, tendo como princípio norteador o Código de Ética da Profissão, portanto, as conversas são mantidas em sigilo. Os encontros acontecem na Clínica do Curso de Psicologia da Unoesc São Miguel do Oeste, sendo o atendimento oferecido por acadêmicos, sob a supervisão da professora Verena Augustin Hoch e a coordenação da professora Lisandra Antunes de Oliveira. No total são 14 encontros – às quintas-feiras. Os agressores são encaminhados pelo Juiz da Vara Criminal, quando concede medida protetiva. De acordo com a coordenadora do curso, é uma forma de remeter um olhar humanizado para as questões da atualidade. Para ela, cuidar do agressor significa proteger as vítimas e as famílias – tanto do agressor quanto das suas vítimas.
ACOLHIMENTO
Aplicar a Lei como forma de punição não tem se mostrado efetivo, não impacta em mudança no comportamento do agressor. A psicologia entende que o agressor passa a se sentir acolhido e não é mais visto apenas como agressor.
O nível de reincidência é 0,002% desde que esse programa foi criado. Devido aos bons resultados alcançados, o programa Basta! está participando de uma pesquisa Nacional desenvolvida pela Fiocruz. A prova de que estas iniciativas se configuram em uma alternativa qualificada para os casos é o fato de que o modelo utilizado já é realidade como política pública em alguns estados como Paraná, Mato Grosso e o Distrito Federal. Ideias como essa chegaram a zerar a reincidência de agressões no Rio Grande do Norte.
RAIVA
Para os participantes do projeto, é recompensador perceber que esses homens realmente mudam os seus comportamentos e percebem o ponto onde estavam errando. A estagiária do programa, psicóloga Josiane Romancini, relata: “Todos os homens que chegaram ao grupo no primeiro semestre de 2019 vieram, de início, com um sentimento de raiva e impotência referente a tudo o que estavam vivendo e experienciando, mas, ao longo do processo, percebeu-se uma nítida mudança de comportamento e pensamento referente ao que estavam sentindo naquele momento inicial.
Josiane conta que quando os novos “agressores” chegaram ao projeto, aqueles que já estavam recebendo acompanhamento queriam ouvir seus pares, suas histórias, falar de suas experiências, expressando seus pareceres e questionando uns aos outros, fazendo com que todos os envolvidos no grupo pensassem sobre o que estavam passando. A estagiária vê isso como uma forma de ressignificar suas atitudes e pensamentos, o que é um dos pontos centrais do grupo psicoterapêutico.
Fonte: Unoesc