por Jaime Telles, locutor da Rádio Líder e orador do Teatro Alfredo Sigwalt de Joaçaba.
Confesso que o verbo chorar andava meio em desuso, mas, os sucessivos acontecimentos dos últimos meses reavivaram-me a coragem de abrir o coração para dar transparência à certos sentimentos.
São próprias do Natal essas sensações, que passam o ano empanadas pela sombra da rotina, quando não recobertas pela crosta que o orgulho caprichoso vai formando a cada farpa, a cada ranço.
Semelhante a um viajante cansado, eis que chega, finalmente, o Natal. Sua aparência inicial não esconde a poeira do caminho vincada no rosto combalido. Mas Natal é sempre Natal! Não duvide, nem espere dele derrotismo ou desesperança. Não, não. Jamais! Um sorriso basta para devolver-lhe o verdadeiro aspecto, que resplandece, muito além das vitrines e das embalagens, que até cintilam e empolgam, mas não dizem tanto. Ocorre que o amor é a força motriz que potencializa e agiganta o Natal. Por isso ele chega onde as palavras não alcançam. Belo, grandioso, simples e imaterial. Neste detalhe quase sempre sucumbimos, porque somos loucamente apaixonados pelo palpável. Preferimos coisas a causas, porque o etéreo parece sempre distante. Então sofremos, porque nossa essência pertence a um “reino de outro mundo” e isso nos inquieta e confunde.
Ah, 2020, quantas e quão duras lições! Até nossa respiração está modificada. Fungamos inseguros por de traz de nossas máscaras, semelhantes ao animal que bufa morro acima ante peso da carroça em dueto impiedoso com estalido do látego.
Pensativos deixamos de lado o charme da janela e das prosas na varanda e nos atiramos de cabeça nas redes sociais, na ilusão imediatista de curtidas e visualizações que engolem nosso tempo sem nada somar. Escancaramos ali nosso orgulho com roupa de domingo, expondo e ostentando muito além do que realmente somos. Curvas e músculos no lugar de ideias e de ideais. Os bons textos parecem sempre longos, apesar do conteúdo notável, sobre o qual, alguém nos conta depois, com a interpretação que puder.
A vida é mesmo uma grande escola presencial, na qual, por mais que hajamos remotamente somos obrigados a comparecer, pois, neste sentido, todos somos insubstituíveis. Daí, o real aprendizado de cada um, resultante do olhar que interessadamente debruçou sobre cada tema, dilema ou problema. Quiçá, algum legado avoengo possa restar disso tudo.
Vacinando a alma, haveremos de respirar na cadência certa e superar esta inesperada travessia para, lá adiante, enxergar e sentir, no turbilhão que nos sacoleja, as muitas nuances benéficas que estão forjando pessoas muito mais experientes e mais prontas para algum merecido amanhã. Tudo isso tem nos ensinado a rezar para dentro, porque da boca para fora só serve para sermos notados, as vezes até admirados, mas os efeitos não pegam atalhos.
Tudo bem! Hora de enxugar as incômodas lágrimas, aprumar a fronte e concluir…Sim, apresar de tudo… é sempre tempo de agradecer.
Feliz 2021.