quinta-feira, maio 2, 2024

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Corinthians à beira de um colapso

Divulgação/Corinthians

Dívidas se aproximaram de R$ 1 bilhão e presidente prevê uma catástrofe financeira. Investimentos não crescem a há cinco anos, assim como a receita. A situação nunca foi tão difícil.

Do GE

Andrés Sanchez voltou à presidência do Corinthians e fez, nas palavras dele, um mandato “nota 6,5”. Não era o mesmo cartola da primeira passagem, da época em que contratou Ronaldo e viabilizou a construção de um estádio para o clube. Desta vez, ele governou “sem tesão”, em sua própria avaliação.

Do ponto de vista financeiro, esta segunda gestão em nada se pareceu com a primeira. Entre 2007 e 2011, a chegada de Andrés ao poder foi sucedida pelo crescimento das receitas, pelo protagonismo em assuntos coletivos, como o fim do Clube dos 13, e pelo medo generalizado de que o Corinthians pudesse “duopolizar” o futebol com o Flamengo.

Nesta administração, que durou de 2018 a 2020, um dos poucos legados que Andrés deixou foi a readequação das contas da Neo Química Arena – inclusive, com os naming rights. No mais, deficit e dívida são palavras que o corintiano introduziu em definitivo no vocabulário.

O dirigente se explicou algumas vezes sobre os problemas financeiros. O Corinthians comprometeu dinheiro demais na compra de jogadores, sobretudo em 2019. Ele reclamou de problemas vindos de mandatos anteriores, entre receitas antecipadas e dívidas herdadas.

Divulgação/Corinthians

“Dívida é problema, deficit é problema, mas não é que o Corinthians vai fechar amanhã ou está falido. Não vai ser o time do mais rico do mundo. Antes era o Palmeiras, agora é o Flamengo e amanhã sei lá quem vai ser”, disse Andrés (foto).

PANORAMA
A comparação de faturamento (tudo o que foi arrecadado durante a temporada) e endividamento (tudo o que havia a pagar no último dia do ano) é uma medida para a crise alvinegra. Nas últimas duas décadas, o Corinthians nunca teve uma proporção tão ruim entre esses indicadores. As receitas até registraram um aumento na temporada passada, mas, de maneira geral, a associação está no mesmo patamar há cinco anos. Neste mesmo período, Palmeiras e Flamengo multiplicaram seus faturamentos e assumiram posições de protagonismo no futebol.

Ao mesmo tempo, as dívidas dispararam. Com R$ 983 milhões no total, além de ações cíveis e trabalhistas que podem ter sido omitidas, o Corinthians se aproximou do ingrato “clube do bilhão” que ganhou no ano passado vários integrantes. Entenderemos os números no detalhe.

RECEITAS
Na época do Clube dos 13 e também no período posterior, de negociações individuais com a Globo, entre 2012 e 2018, o Corinthians sempre esteve no topo da lista de direitos de transmissão. Valores eram quase integralmente fixos e privilegiavam o clube por causa da torcida.

À medida que o futebol brasileiro foi tornando suas receitas de televisão mais variáveis, isto é, condicionadas ao desempenho em campo no Campeonato Brasileiro e na Copa do Brasil, essa liderança foi perdida. Flamengo, Palmeiras e Grêmio passaram à frente em 2020.

A receita com direitos de transmissão tem uma particularidade. Como dirigentes adiaram parte das partidas para o calendário de 2021, parte relevante será classificada somente no balanço do ano seguinte. Mas esse asterisco em nada muda a comparação com outros clubes.

DÍVIDAS
Como é possível que um clube com R$ 400 milhões em faturamento tenha a pagar, só no curto prazo, em menos de um ano, quase R$ R$ 580 milhões? Esta é a situação no Corinthians. Que não conseguiria honrar seus compromissos nem se gastasse toda sua arrecadação com eles.

Na prática, a diretoria tem algumas opções. Ela pode buscar empréstimos bancários e usar o dinheiro para “rolar” a dívida. Ou pode renegociar prazos e valores com credores para esticar os pagamentos. Se nada der certo, calote. E aí cobranças por vias judiciais ficam piores.

Divulgação/Corinthians

FUTURO
Duílio Monteiro Alves (foto), atual presidente do Corinthians, foi diretor de futebol e o aliado mais próximo de Andrés Sanchez em seu segundo mandato. Ainda que possivelmente não tenha se envolvido tão de perto com as finanças, é corresponsável pelo estrago causado nas contas.

O clube do Parque São Jorge tem problemas de naturezas variadas para lidar. No curto prazo, o desafio é o de manter salários do futebol profissional em dia, para que pelo menos o elenco não sinta tanto as consequências negativas do endividamento excessivo.

Investimentos em contratações de novos jogadores deveriam ter sido descartados. Por mais que o tamanho da torcida e a pressão (equivocada) da mídia por reforços sejam apelativos, chegou-se a um ponto em que assumir ainda mais riscos pode ser catastrófico.

Em termos de transparência, o Corinthians foi um clube razoavelmente vanguardista, no início da década de 2010, quando produziu seus primeiros relatórios de sustentabilidade e criou uma rotina de publicação de documentações financeiras. Isto se perdeu ao longo dos anos.

Para piorar, são muitos os pontos obscuros no balanço anual. Receitas inadequadamente misturadas, dívidas sem nenhum detalhamento, ações judiciais omitidas. Caso queira estreitar laços com seu torcedor, a nova diretoria poderia ao menos se importar com essa transparência.

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