sábado, maio 4, 2024

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Inter chega a uma das piores crises de sua história

Da Série B ao vice-campeonato da Copa do Brasil e do Brasileirão, o desempenho esportivo melhorou. A que custo? Orçamento estourado e dívidas galopantes ameaçam o futuro do clube

Marcelo Medeiros assumiu a presidência do Internacional com o clube na Série B. Numa fase constrangedora em todos os aspectos. Com o segundo lugar, em 2017, recolocou-o na primeira divisão. Vice-campeão da Copa do Brasil em 2019, vice-campeão do Campeonato Brasileiro em 2020, o dirigente resgatou a autoestima do torcedor colorado.

Ao mesmo tempo em que conduziu a recuperação esportiva, o dirigente colocou a associação na pior condição financeira de sua história recente. Em 20 anos, não há uma temporada com tantos indicadores negativos quanto os registrados ao término de 2020.

Medeiros foi questionado sobre as finanças em sua entrevista coletiva de despedida – em dezembro, ele deu lugar a Alessandro Barcellos, seu vice-presidente de finanças e depois de futebol. O então presidente deu a versão dele sobre os resultados alcançados por sua administração.

“O Inter gastou do tamanho do Inter. Em 2019, o Inter teve o terceiro maior faturamento do país, ficando pela primeira vez na frente de Corinthians e São Paulo. Essa próxima gestão pode dar uma contribuição nesse aspecto.” A afirmação está errada de ponta a ponta. O terceiro maior faturamento do país em 2019 foi o do Grêmio. E o Internacional esteve à frente de Corinthians e São Paulo em várias ocasiões nas últimas décadas. No trecho que realmente importava, os gastos, não houve aprofundamento.

Em termos de posicionamento perante a opinião pública, a administração de Medeiros conduziu o clube por vários anos como se as finanças estivessem sendo reorganizadas. Só em 2020, com a pandemia, seus dirigentes começaram a usar palavras como crise e cortes. “Até antes da pandemia, nós tínhamos feitos uma projeção de que o Inter poderia terminar esse ano com superavit. Mas em razão da perda de receitas que a pandemia nos causou, ela vai ficar para o ano que vem”, disse o cartola.

A informação também está errada. No plano orçamentário que a diretoria colorada produziu para 2020, havia uma expectativa de R$ 14 milhões em deficit (prejuízo) – a diferença negativa entre receitas e despesas. O resultado contabilizado foi de R$ 91 milhões negativos. Qual a situação verdadeira das finanças coloradas? Quais são os riscos que o endividamento oferecem ao futebol?

PANORAMA
De acordo com levantamento feito pelo GE, A relação entre faturamento (tudo o que foi arrecadado no ano) e endividamento (o que havia a pagar no último dia de cada exercício) aponta a capacidade que o clube tem de honrar seus compromissos. Quando deve muito mais do que arrecada, a situação complica. É o caso do Internacional. Pela primeira vez em 20 anos, o clube registrou dívidas que correspondem mais do que o dobro de sua arrecadação. Existem adversários ainda piores nesse quesito – o que talvez ofereça algum alívio, pois a concorrência em campo é o que importa.

E há quem esteja na situação “oposta”. O Grêmio tem o dobro de receitas em relação ao endividamento. Esse contraste entre os gaúchos também é uma novidade relativamente recente. Há alguns anos, colorados estavam melhores do que gremistas no dinheiro.

Na relação entre receitas e dívidas do Internacional, o resultado é o pior possível: menos dinheiro de um lado, mais compromissos a pagar do outro. Ao analisar o faturamento no detalhe, é preciso tomar cuidado com as receitas relacionadas a direitos de transmissão. Como o Campeonato Brasileiro foi adiado e encerrado somente em 2021, parte dos pagamentos vinculados a ele foram adiados para o próximo exercício.

No Internacional, este montante equivale a R$ 26 milhões, segundo relatório que a administração colorada anexou ao balanço. Isso indica que parte relevante do dinheiro com mídia não foi perdida, e sim postergada para as demonstrações financeiras de 2021. Menos mal. Ainda nos direitos televisivos, houve uma redução significativa em 2020 por causa da Copa do Brasil – aí, sim, dinheiro que entrou a menos no caixa. Como o time foi eliminado nas quartas de final pelo América-MG, a comparação com a final da edição anterior fica ingrata.

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