Em plena Pandemia de Coronavírus, responsável por uma paralisia econômica no Mundo, principal indicador para reajustar os aluguéis teve aumento desproporcional ao índice que calcula a inflação no País
Rodrigo Leitão
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Muitos inquilinos brasileiros estão desesperados com a conta do aluguel neste início de ano. Quem teve reajuste programado para o mês de janeiro, sofreu com uma elevação de custos de 27,4%. Em março, o índice chegou a 31,1%, o maior desde 1994. Isso significa, por exemplo, que quem pagava R$ 1 mil passou a ter que desembolsar R$ 270,40 ou R$ 1.311,00. Em tempos de pandemia, onde muitos trabalhadores foram obrigados a aceitar redução salarial para não perder o emprego, esse aumento é uma carga insuportável.
Mas de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação brasileira e da maioria dos reajustes salariais, o custo de vida médio no país subiu apenas 4,21% em 2020. Esse contraste reduziu o poder de compra das famílias.
Mas o que levou ao desequilíbrio incompreensível dos dois indicadores em um ano de economia praticamente parada? O IPCA, explicando de forma simples, rege o consumo das famílias e se percebe a partir dos preços do varejo. O IGP-M, tem cotação em dólar, reflete os negócios de matéria prima, insumos e custos corporativos. E foi exatamente a alta do dólar que fez o IGP-M disparar. Normalmente, os dois índices flutuam na mesma direção, como alguma diferença, mas nada exorbitante como em 2020.
Portanto, a liberdade dada ao mercado externo dentro da economia brasileira., com câmbio livre e importação sem regras de preços, fez com que o IGP-M subisse tanto no ano passado. Este índice é direcionado para alguns produtos específicos e a elevação do índice acaba por favorecer determinados seguimentos que trabalhem com dólar e produtos e insumos importados, como a construção civil, os setores imobiliários, de energia, telefonia e gastos com saúde.
Um dos grandes beneficiados pelo IGP-M alto é o agronegócio, principalmente suas exportações. Como o atual governo está refém do apoio político deste setor, principalmente no Congresso e no Ministério da Agricultura, que está nas mãos de uma das principais representantes do Campo rico, muito dificilmente essa tendência será revertida este ano.
Mas há um perigo iminente para o brasileiro: a volta da inflação. Com custos de tarifas públicas, alimentos e geração de empregos subindo – e favorecendo segmentos específicos, portanto não distribuindo ou gerando, mas sim transferindo renda no mercado interno – o país tem seus alicerces financeiros abalados e um peso de carestia sobre a população. Por outro lado, essa mesma inflação cutuca o bolso do governo, pois agrava a crise e impede o Brasil de usar as taxas de juros para conter a inflação e sem aumentar o seu próprio custo.
É um ciclo vicioso ditado pela tão defendida liberdade de mercado, que não funciona em país pobre.