sexta-feira, maio 17, 2024

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Psicóloga reflete sobre saúde mental no período pós-pandemia

Foto Arquivo Pessoal

Vida que segue, nós que nos adaptemos

por Isabela Toscan Mitterer Berkembrock, psicóloga, terapeuta EMDR, mestra em Educação, especialista em Neurociência, psicologia positiva e mindfulness, especialista em psicologia organizacional e do trabalho, e facilitadora do Programa de Educação Emocional Positiva.

Você também tem se sentido como se nada estivesse acontecendo e ao mesmo tempo, tudo estivesse acontecendo? Também tem sentido saudade de uma rotina na qual tivéssemos perspectiva do futuro? Tem se sentido ansioso, angustiado, deprimido e com falta de ar sem saber exatamente porquê? Tem se sentido acelerado e insatisfeito, tem sentido gratidão, confusão ou inquietação, às vezes ao mesmo tempo?

Após a pandemia, com todas as mudanças impostas por ela, perdemos a nossa ilusória sensação de controle, abrimos mão de algumas das nossas liberdades para manter nossa segurança, nos deparamos com as nossas diferenças, que se intensificaram, e estamos com nossas rotinas diferentes, que é o que – tal qual crianças – nos deixaria tranquilos do que aconteceria na sequência. Enquanto alguns permaneceram no medo paralisante, outros entraram em negação para poder continuar seguindo a vida – seja por vontade própria ou por necessidade. A pandemia diminuiu seu ritmo, mas nosso sistema de defesa continua em alerta. As mudanças que foram implementadas naquela época afetaram nossa forma de viver e a consciência adquirida, em estágios diferentes para cada um, permanece nos fazendo pensar mais profundamente.

Nosso cérebro continuou em modo de sobrevivência: mecanismos de defesa psicológicos complexos têm feito parte do nosso cotidiano de maneira praticamente consciente – optamos por um ou por outro para lidar com as nossas mazelas emocionais. Medo, raiva, nojo e tristeza são emoções base que nos ajudam a sobreviver. Não é mais apenas a saúde física que está em pauta, mas nossa saúde emocional e psicológica. São nossas relações, nossas falhas e nossas inquietações sobre a vida.

A ansiedade assumiu seu posto no esquema de sobrevivência, como tem acontecido há milênios desde o surgimento da humanidade, nos alertando para todos os pequenos ou grandes perigos e problemas que podem afetar nossa vida e nosso bem estar, trazendo à tona medos antigos ou novos e nos deixando “ligados”, preocupados e acelerados. Muitos de nós ainda não conseguimos deixar essa emoção para trás.

Aqueles problemas que deixamos para depois e “empurramos com a barriga” por um longo período já não aceitam mais ficar ali escondidos enquanto nos pomos – consciente ou inconscientemente – a pensar no nosso legado para as gerações futuras, nossa forma de viver acelerada e nosso adoecer automático. Será que deveríamos deixar para resolver depois aquele problema, aquela discussão, aquela decisão, aquele plano? Será que aquela crença que ficou escondida por tanto tempo consegue ficar ali quietinha mais um pouco?

E assim vamos vivendo o luto da nossa vida “normal” perdida, daquela vida de antes com menos consciência de perigo, com preocupações diferentes. Vamos nos alternando entre reações diversas: do medo à negação, do relaxamento à tensão, da alegria à ansiedade, do alívio à culpa, da ansiedade à tristeza. A habilidade de lidar com as nossas emoções, relações e reações tem sido posta à prova, juntamente com nosso nível de autocuidado.

Vamos valorizando as nossas relações como nunca, e aprendendo a sermos gratos por aquele cotidiano singelo e rotineiro, do qual talvez reclamássemos. Não tem segredo para aprender a lidar com situações difíceis e desafiadoras… o passo a passo é respirar fundo, exercitar a paciência, adaptar aquilo que pode ser adaptado e tratar aquilo que você sente que te machuca. É lidar com um dia de cada vez e continuar seguindo com a vida, de preferência, melhor do que nunca.

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